A ideia de selecionar um grupo de dez livros que têm fundamental importância para mim é um exercício interessante, pois faz-me recordar momentos preciosos da minha vida. E talvez perceber um pouco porque que sou como sou.
O primeiro é O Principezinho, de Saint-Exupéry. Escrito com o propósito de lembrar tanto as crianças como os adultos valores – e esta é uma opinião muito pessoal – com os quais todos nós nascemos mas que aos poucos se dissolvem. Ao ler este livro levamos um injecção de inocência. É dos poucos livros que conheço que nos faz sentir bem logo nas primeiras páginas. Quando o releio, é de um vez. Como se não houvesse nada melhor para fazer senão ler até ao fim. Encontro neste livro o valor mais precioso deste mundo. O valor do qual a Mulher é portadora – A Empatia.
Depois veio Romeu e Julieta. Neste livro senti toda a genialidade de Shakespeare. Foi para mim uma descoberta impressionante a capacidade que algumas pessoas têm para escrever. A intensidade do amor de Romeu e Julieta é descrita de um modo absolutamente etéreo através do talento do autor. Senti que ninguém era capaz de amar como os dois se amavam. Parecia algo impossível. Fez-me ler mais livros de Shakespeare como Hamlet, Macbeth, Twelfth Night entre outros.
Devorei os seus Sonetos e percebi o sentimento de admirar outra pessoa ao ponto de não lhe reconhecer qualquer defeito.
Seguiu-se Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Marcou-me não apenas pelo conteúdo do livro, que me interessou muito, mas pela impactante descoberta da literatura clássica.
Pela primeira vez percebi que a vida que fluía nas palavras era mais interessante do que a dos personagens humanos que circulavam à minha volta. Isso produziu em mim uma angústia meio desesperadora mas, ao mesmo tempo despertou o desejo de descobrir outros livros, pois percebi, a partir daquele primeiro contacto, que só na literatura encontraria ideias e pessoas a viver situações mais sublimes do que as do mundo real.
É a história de uma mulher vencida pela angústia da paixão.
Flaubert era um perfecionista - cada palavra escrita foi escolhida como um pintor escolhe o tom perfeito.
A Metamorfose, de Frank Kafka, que é na essência um dos livros mais impressionantes e metaforicamente poderosos que já li foi o seguinte. Reduz o sistema social criado pelo ser humano, que nos prende sem escapatória e pouco a pouco nos isola e nos transforma numa espécie de insectos tratados como o personagem principal - Gregor Samsa. Depois de o ler, quando olhava para as pessoas e o modo como se moviam entristecia-me. O desespero para se manterem vivos, a pressão da falta de emprego, a necessidade da raiz de todo o mal que é o dinheiro. Mas principalmente, o esforço para ser aceite ou no mínimo tolerado, para ser "normal" - seja lá isso o que for!
Alguns causam sempre mais nojo do que outros. Esses são os que estão no maior estado de degradação.
Posterior a Kafka, descobri Crime e Castigo, do escritor russo Dostoiévski. Além de me fazer mergulhar numa maravilhosa e tenebrosa realidade sombria, pude experimentar no imaginário a ideia do assassinato. Enquanto lia este livro senti uma das mais estranhas e perturbadoras experiências que o ser humano pode ter – a de ter assassinado outro ser humano. Senti o peso insuportável que Raskólnikov carregava na sua consciência e compreendi a auto-punição tendo como origem um extraordinário estado psicológico. Depois da leitura de Dostoiévski, vivo com a certeza de ser absolutamente desesperante passar pela existência trazendo consigo tamanho sentimento.
Mais tarde, depois de ler Tolstoi, Lewis Carrol, Flaubert, John Kerouac, Sun Tzu, Allen Poe, Lobo Antunes, Garcia Márquez, Pablo Neruda, descobri a poesia francesa de Charles Baudelaire. Seu livro As Flores do Mal sempre me encantaram e não sei dizer porquê. São de tal modo intensos que influenciam o meu modo de ser. Clarificam o amor como a filosofia a vida. Ainda hoje leio e releio os poemas de Baudelaire, guiado unicamente pelo prazer sensual que me provocam.
De Thomas Mann - Morte em Veneza. Foi para mim como um comprovativo cru que a atracção não existe somente entre sexos opostos ou da mesma idade. O enredo é centrado no sentimento amoroso como algo puro e que não se pode controlar. Ao ler vamos sentindo o peso que a sociedade exerce fora dos padrões estabelecidos. A descrição dos cenários é escassa mas genialmente elaborada, de tal modo que é uma completa experiência sensorial - conseguimos visualizar cores e sentir cheiros como se estivesse-mos em Veneza. A poderosa construção dos personagens é algo que não deixa o leitor indiferente ao desespero de um velho homem que esconde o seu amor por um atraente jovem veneziano. Um retrato do que é amar uma pessoa sem a conhecer bem – um estranho. A curiosidade motiva-nos, o magnetismo provoca-nos e castiga o amor incontrolável de uma alma que se acha aviltada, prisioneira da sociedade.
Passamos de algum modo por ela e sabemos que existimos no seu mundo mas não nos aproximamos porque não podemos - amamos de longe...
O livro que mais me perturbou e encantou ao mesmo tempo foi Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe. Além de ter experimentado o sentimento e a ideia do suicídio - e trazer para dentro de mim essa possibilidade - encontrei neste livro a poética descrição dos sentimentos amorosos profundos como nunca havia visto até então e do qual, creio, não encontrei ainda intensidade semelhante em nenhum outro lugar. Ofereceu-me mais descobertas, mais emoções e, principalmente, ampliou ainda mais a paixão que tenho pela literatura. Creio que muito da minha educação sentimental, no que há de mais vivificador e dececionante em relação à crença no amor e nas relações humanas, se deve a este livro.
Porém De Goethe viria também a venerar seu Fausto e Erotica Romana.
Em Fausto horrorizou-me o quão poderosa é a ambição do Homem e as consequências da sua prática inconsciente. Também me horrorizou a fácil corrupção da sua alma.
Em Erotica Romana vi descritas de um modo nunca antes lido o desejo sexual como algo incontrolável e humano. E senti-me melhor por descobrir ser normal tamanha intensidade.
Outro livro que me marcou para sempre foi Por que não sou Cristão, de Bertrand Russel. A minha descrença na existência de Deus ou na vida após a morte já tinha sido fortificada com leituras posteriores de Nietzsche, e Immanuel Kant. Mas este autor conseguiu de uma forma, para mim lógica, construir argumentos que só um Matemático conseguiria construir. Para mim o rompimento com a ideia da crença num possível protector invisível que nos vigia, faz-me tomar responsabilidade pelos meus actos, aceitar e controlar o meu destino, acreditar em mim mesmo e nos outros e saber que nada cai do céu. É um sentimento estimulante que nos faz pensar todas as situações da vida com a própria cabeça - mesmo que nos sintamos órfãos do cosmos. Para além de fortificar o meu ateísmo fez-me tornar numa pessoa mais tolerante no que diz respeito à religião. Mesmo que na minha opinião seja algo inventado para controlar sociedades baseando-se na imposição do Medo, compreendi na leitura deste livro a necessidade que o ser humano têm em recorrer a algo que os ajude e proteja - e que isso, na prática, não é nada mais do que o acreditar em sim próprio.
No momento estou mergulhado em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Como já foi provado por Jules Verne também na literatura cientifica encontramos pérolas que no alargam horizontes. Este em particular expõem uma sociedade no futuro num estado científico totalitário. Família, monogamia, privacidade e pensamento criativo constituem crime. Os conceitos de "Pai" e "Mãe" são meramente históricos. Huxley profetizou em Admirável Mundo Novo, uma civilização de excessiva ordem onde todos os homens são controlados desde a geração por um sistema que alia controle genético (predestinação) a condicionamento mental, o que os torna dominados pelo sistema em prol de uma aparente harmonia na sociedade. Não há espaço para levantamento de questões ou dúvidas, nem para os conflitos, pois até os desejos e ansiedades são controlados quimicamente.
Sempre me interessei por histórias de futuros distópicos - sensibilizam-me no sentido de me tornar uma pessoa melhor.
Há mais de dez livros nesta lista. Mas não podia deixar de os referir. De uma coisa estou certo, o encontro com estes livros marcou-me muito, e para sempre.
O primeiro é O Principezinho, de Saint-Exupéry. Escrito com o propósito de lembrar tanto as crianças como os adultos valores – e esta é uma opinião muito pessoal – com os quais todos nós nascemos mas que aos poucos se dissolvem. Ao ler este livro levamos um injecção de inocência. É dos poucos livros que conheço que nos faz sentir bem logo nas primeiras páginas. Quando o releio, é de um vez. Como se não houvesse nada melhor para fazer senão ler até ao fim. Encontro neste livro o valor mais precioso deste mundo. O valor do qual a Mulher é portadora – A Empatia.
Depois veio Romeu e Julieta. Neste livro senti toda a genialidade de Shakespeare. Foi para mim uma descoberta impressionante a capacidade que algumas pessoas têm para escrever. A intensidade do amor de Romeu e Julieta é descrita de um modo absolutamente etéreo através do talento do autor. Senti que ninguém era capaz de amar como os dois se amavam. Parecia algo impossível. Fez-me ler mais livros de Shakespeare como Hamlet, Macbeth, Twelfth Night entre outros.
Devorei os seus Sonetos e percebi o sentimento de admirar outra pessoa ao ponto de não lhe reconhecer qualquer defeito.
Seguiu-se Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Marcou-me não apenas pelo conteúdo do livro, que me interessou muito, mas pela impactante descoberta da literatura clássica.
Pela primeira vez percebi que a vida que fluía nas palavras era mais interessante do que a dos personagens humanos que circulavam à minha volta. Isso produziu em mim uma angústia meio desesperadora mas, ao mesmo tempo despertou o desejo de descobrir outros livros, pois percebi, a partir daquele primeiro contacto, que só na literatura encontraria ideias e pessoas a viver situações mais sublimes do que as do mundo real.
É a história de uma mulher vencida pela angústia da paixão.
Flaubert era um perfecionista - cada palavra escrita foi escolhida como um pintor escolhe o tom perfeito.
A Metamorfose, de Frank Kafka, que é na essência um dos livros mais impressionantes e metaforicamente poderosos que já li foi o seguinte. Reduz o sistema social criado pelo ser humano, que nos prende sem escapatória e pouco a pouco nos isola e nos transforma numa espécie de insectos tratados como o personagem principal - Gregor Samsa. Depois de o ler, quando olhava para as pessoas e o modo como se moviam entristecia-me. O desespero para se manterem vivos, a pressão da falta de emprego, a necessidade da raiz de todo o mal que é o dinheiro. Mas principalmente, o esforço para ser aceite ou no mínimo tolerado, para ser "normal" - seja lá isso o que for!
Alguns causam sempre mais nojo do que outros. Esses são os que estão no maior estado de degradação.
Posterior a Kafka, descobri Crime e Castigo, do escritor russo Dostoiévski. Além de me fazer mergulhar numa maravilhosa e tenebrosa realidade sombria, pude experimentar no imaginário a ideia do assassinato. Enquanto lia este livro senti uma das mais estranhas e perturbadoras experiências que o ser humano pode ter – a de ter assassinado outro ser humano. Senti o peso insuportável que Raskólnikov carregava na sua consciência e compreendi a auto-punição tendo como origem um extraordinário estado psicológico. Depois da leitura de Dostoiévski, vivo com a certeza de ser absolutamente desesperante passar pela existência trazendo consigo tamanho sentimento.
Mais tarde, depois de ler Tolstoi, Lewis Carrol, Flaubert, John Kerouac, Sun Tzu, Allen Poe, Lobo Antunes, Garcia Márquez, Pablo Neruda, descobri a poesia francesa de Charles Baudelaire. Seu livro As Flores do Mal sempre me encantaram e não sei dizer porquê. São de tal modo intensos que influenciam o meu modo de ser. Clarificam o amor como a filosofia a vida. Ainda hoje leio e releio os poemas de Baudelaire, guiado unicamente pelo prazer sensual que me provocam.
De Thomas Mann - Morte em Veneza. Foi para mim como um comprovativo cru que a atracção não existe somente entre sexos opostos ou da mesma idade. O enredo é centrado no sentimento amoroso como algo puro e que não se pode controlar. Ao ler vamos sentindo o peso que a sociedade exerce fora dos padrões estabelecidos. A descrição dos cenários é escassa mas genialmente elaborada, de tal modo que é uma completa experiência sensorial - conseguimos visualizar cores e sentir cheiros como se estivesse-mos em Veneza. A poderosa construção dos personagens é algo que não deixa o leitor indiferente ao desespero de um velho homem que esconde o seu amor por um atraente jovem veneziano. Um retrato do que é amar uma pessoa sem a conhecer bem – um estranho. A curiosidade motiva-nos, o magnetismo provoca-nos e castiga o amor incontrolável de uma alma que se acha aviltada, prisioneira da sociedade.
Passamos de algum modo por ela e sabemos que existimos no seu mundo mas não nos aproximamos porque não podemos - amamos de longe...
O livro que mais me perturbou e encantou ao mesmo tempo foi Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe. Além de ter experimentado o sentimento e a ideia do suicídio - e trazer para dentro de mim essa possibilidade - encontrei neste livro a poética descrição dos sentimentos amorosos profundos como nunca havia visto até então e do qual, creio, não encontrei ainda intensidade semelhante em nenhum outro lugar. Ofereceu-me mais descobertas, mais emoções e, principalmente, ampliou ainda mais a paixão que tenho pela literatura. Creio que muito da minha educação sentimental, no que há de mais vivificador e dececionante em relação à crença no amor e nas relações humanas, se deve a este livro.
Porém De Goethe viria também a venerar seu Fausto e Erotica Romana.
Em Fausto horrorizou-me o quão poderosa é a ambição do Homem e as consequências da sua prática inconsciente. Também me horrorizou a fácil corrupção da sua alma.
Em Erotica Romana vi descritas de um modo nunca antes lido o desejo sexual como algo incontrolável e humano. E senti-me melhor por descobrir ser normal tamanha intensidade.
Outro livro que me marcou para sempre foi Por que não sou Cristão, de Bertrand Russel. A minha descrença na existência de Deus ou na vida após a morte já tinha sido fortificada com leituras posteriores de Nietzsche, e Immanuel Kant. Mas este autor conseguiu de uma forma, para mim lógica, construir argumentos que só um Matemático conseguiria construir. Para mim o rompimento com a ideia da crença num possível protector invisível que nos vigia, faz-me tomar responsabilidade pelos meus actos, aceitar e controlar o meu destino, acreditar em mim mesmo e nos outros e saber que nada cai do céu. É um sentimento estimulante que nos faz pensar todas as situações da vida com a própria cabeça - mesmo que nos sintamos órfãos do cosmos. Para além de fortificar o meu ateísmo fez-me tornar numa pessoa mais tolerante no que diz respeito à religião. Mesmo que na minha opinião seja algo inventado para controlar sociedades baseando-se na imposição do Medo, compreendi na leitura deste livro a necessidade que o ser humano têm em recorrer a algo que os ajude e proteja - e que isso, na prática, não é nada mais do que o acreditar em sim próprio.
No momento estou mergulhado em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Como já foi provado por Jules Verne também na literatura cientifica encontramos pérolas que no alargam horizontes. Este em particular expõem uma sociedade no futuro num estado científico totalitário. Família, monogamia, privacidade e pensamento criativo constituem crime. Os conceitos de "Pai" e "Mãe" são meramente históricos. Huxley profetizou em Admirável Mundo Novo, uma civilização de excessiva ordem onde todos os homens são controlados desde a geração por um sistema que alia controle genético (predestinação) a condicionamento mental, o que os torna dominados pelo sistema em prol de uma aparente harmonia na sociedade. Não há espaço para levantamento de questões ou dúvidas, nem para os conflitos, pois até os desejos e ansiedades são controlados quimicamente.
Sempre me interessei por histórias de futuros distópicos - sensibilizam-me no sentido de me tornar uma pessoa melhor.
Há mais de dez livros nesta lista. Mas não podia deixar de os referir. De uma coisa estou certo, o encontro com estes livros marcou-me muito, e para sempre.