Wednesday 7 May 2008

Erotica Romana


I

"Falai-me, pedras, ó falai, altos palácios!
Ruas, dizei uma palavra! Génio, não te moves?
Sim, tudo tem alma entre os teus muros sagrados,
Roma Eterna, só para mim tudo se cala ainda.
Oh, quem me sussurra, em que janela avisto eu
A criatura graciosa que me incendeia e me sacia?
Não adivinho ainda os caminhos pelos quais sempre de novo irei
Para ela e dela regressarei, sacrificando-lhe assim o precioso
[tempo.

Ainda contemplo igrejas e palácios, ruínas e pilares
Como um homem prudente que aproveita a viagem.
Mas em breve isso acabará, e será um único templo,
O do Amor, a receber o predestinado.
És sem dúvida o mundo, ó Roma, mas sem o amor
O mundo não seria o mundo, e também Roma não seria Roma."

II

"Mais bela do que esperava é a sorte que me foi dada,
Com astúcia fez-me o Amor ignorar todos os palácios.
Ele há muito sabe, e também eu próprio descobri
O que um aposento doirado oculta atrás do papel pintado.
Chamai-lhe cego e pueril e impertinente - eu conheço-te bem,
Amor perspicaz, deus jamais subornável!
A nós não seduziram as majestosas fachadas,
Nem a varanda elegante, nem o sóbrio pátio.

Por elas passámos apressados, e foi uma porta baixa e estreita
Que acolheu o guia, que acolheu o desejoso.
Tudo me concede ele ali, tudo me ajuda a receber
E dispersa rosas mais frescas com cada dia.
Não tenho eu aqui o céu? - Que ofereces tu, bela Borghese,
Nipotina, que mais ofereces tu ao teu amado?
Banquetes e sociedade, passeios, jogos, ópera e bailes
Só roubam o tempo mais conveniente ao Amor.
Repugnam-me esplendor e cerimónias, pois afinal
Não se levantará a saia de brocado tal como a de lã?
E se ela quiser acomodar o amado entre os seus seios,
Não desejará ele libertá-la logo de todos os adornos?
Não deverão jóias e rendas, estofos e ganchos
Cair todos antes de ele poder sentir a bela?
Mais perto a teremos! E já a tua sainha de lã desliza
Em pregas para o chão quando o amigo a desprende.
Apressado leva a rapariga, em leve linho envolvida,
Como o faria uma ama, para o leito gracejando.
Sem cortinados de seda e sem colchões bordados
Acomodam-se os dois no quarto vazio.
Toma então Júpiter mais da sua Juno
E delicie-se o mortal, se mais o conseguir.
Deleitam-nos os prazeres do verdadeiro Amor nu
E o doce ranger da cama que baloiça."


Johann Wolfgang von
Goethe, "Erotica Romana".


Duas das primeira Elegias que compõem a obra lasciva de Goethe "Erotica Romana".
É simplesmente Genial esta obra do autor de outras minhas favoritas: "Fausto" e "Os sofrimentos do jovem Werther".

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