Wednesday, 27 August 2008
O Abraço das Palavras
O meu único abraço.
Os Livros
"Apetece chamar-lhes irmãos,
tê-los ao colo,
afagá-los com as mãos,
abri-los de par em par,
ver o Pinóquio a rir
e o D. Quixote a sonhar,
e a Alice do outro lado
do espelho a inventar
um mundo de assombros
que dá gosto visitar.
Apetece chamar-lhes irmãos
e deixar brilhar os olhos
nas páginas das suas mãos."
José Jorge Letria, 'Pela Casa Fora'
Os Músicos de Bremen
"Era uma vez um burro que, durante muitos anos, tinha transportado sem descanso sacos de farinha para o moinho. Agora, no entanto, estava cansado, tão cansado que já não conseguia fazer o trabalho. O dono pensou então em livrar-se dele. Apercebendo-se de que o vento não lhe soprava a favor, o burro fugiu e pôs-se a caminho de Bremen, pensando poder entrar para a banda de música da cidade. Já caminhava havia algum tempo quando encontrou um cão de caça estendido no chão.
― Ó cão, por que motivo é que estás assim? — perguntou o burro.
― Ah! ― suspirou o cão ―, é que estou velho e cada dia sinto menos forças. Como já não sirvo para caçar, o meu amo quis matar-me. Por isso fugi, mas agora como é que eu vou ganhar a vida?
― Olha ― disse o burro ―, eu vou para Bremen onde penso entrar na fanfarra local. Vem comigo e tentarei que entres também. Eu tocarei alaúde e tu timbale.
O cão achou boa a ideia e continuaram juntos. Um pouco mais longe encontraram um gato com cara de enterro.
― Ó gato, o que é que te anda a correr mal? ― perguntou o burro.
― E quem é que pode estar contente ― resmungou o gato ― sabendo que tem a vida por um fio? Estou a ficar velho e, como prefiro deitar-me ao pé do lume e ronronar a caçar ratos, a minha dona tentou afogar-me. Escapei a tempo, mas agora, o que vai ser de mim?
― Anda connosco para Bremen. Tu até percebes de serenatas, portanto podes entrar para a banda de música da cidade.
O gato achou boa a ideia e lá foi com eles. Daí a pouco os três fugitivos passaram por uma quinta. Sobre a cancela, o galo cantava a plenos pulmões.
―Ei! Queres dar-nos cabo dos ouvidos? ― perguntou o burro. ― O que há contigo?
― Para hoje, anuncio bom tempo ― respondeu o galo. ― Mas como amanhã é domingo e haverá convidados, a dona da casa, uma mulher sem coração, mandou a cozinheira matar-me. Por isso estou a cantar com quanta força tenho e tenciono continuar enquanto puder.
― Anda daí, Crista Vermelha ― convidou o burro ―, acho melhor que venhas connosco. Nós vamos para Bremen, o que sempre é melhor do que ir parar à panela. Tens uma bela voz e, todos juntos, vamos dedicar-nos à música.
A proposta agradou ao galo e lá foram os quatro. Mas, como a cidade de Bremen ficava longe, à noite entraram numa floresta onde decidiram passar a noite. O burro e o cão deitaram-se debaixo de uma grande árvore. O gato instalou-se nos ramos mais baixos. Mas o galo, por uma questão de segurança, preferiu empoleirar-se o mais alto possível. Antes de adormecer, olhou em todas as direcções e viu uma luz. Chamou os companheiros e disse-lhes que não muito longe dali devia haver uma casa porque se via luz. O burro sugeriu:
― Era melhor levantarmo-nos e continuarmos o nosso caminho, porque aqui não estamos muito bem instalados.
Por seu lado, o cão declarou que um par de ossos com um pedacito de carne agarrada não lhe faria nada mal. Por isso o burro, o cão, o gato e o galo encaminharam-se para a luz que viam aumentar cada vez mais e, por fim, chegaram a um antro de ladrões que estava todo iluminado. O burro, que era o mais alto, aproximou-se da janela e espreitou lá para dentro.
― O que é que estás a ver, ó Cabeça Cinzenta? ― perguntou o cão.
― O que estou a ver? ― respondeu o burro. ― Estou a ver uma mesa coberta de coisas boas e vários ladrões sentados à volta dela, todos satisfeitos.
― Oh! De uma mesa assim é que nós precisávamos! ― exclamou o galo.
― É verdade! Se fôssemos nós à volta da mesa! ― suspirou o burro.
Então os quatro animais puseram-se a pensar na maneira de expulsar os ladrões. Finalmente descobriram-na: o burro poria as patas dianteiras no rebordo da janela, o cão saltava-lhe para as costas, o gato trepava para cima do cão e, por fim, o galo voaria para cima do gato. Feito isto, começaram o concerto. O burro a zurrar, o cão a ladrar, o gato a miar e o galo a cantar. Depois entraram pela janela, num grande estrondo de vidros.
Ao ouvirem esta barulheira tremenda, os ladrões levantaram-se de um salto e, pensando que fosse um fantasma que tinha acabado de entrar, fugiram apavorados. Os quatro amigos sentaram-se à mesa e devoraram tudo, como se já não comessem há semanas.
Quando acabaram, os quatro músicos foram à procura de um bom sítio para dormir, cada qual segundo as suas preferências: o burro deitou-se no pátio em cima da palha, o cão em frente da porta, o gato perto das cinzas ainda quentes da lareira e o galo empoleirou-se numa trave.
Por volta da meia-noite, os ladrões viram que já não havia luzes. Tudo parecia calmo e, por isso, o capitão mandou um deles ir ver o que se passava dentro de casa.
O homem encontrou tudo em silêncio. Foi à cozinha para acender a luz mas, tomando os olhos brilhantes do gato por brasas ainda acesas, aproximou deles um fósforo para avivar o lume. O gato não gostou nada da brincadeira. Saltou-lhe à cara, bufando, e arranhou-o. O ladrão apanhou um valente susto e correu para a porta das traseiras para fugir. O cão, que estava lá deitado, saltou e mordeu-lhe numa perna. Ao passar pelo pátio, o burro deu-lhe um par de coices, e o galo, que tinha acordado com toda esta confusão cantou do alto do seu poleiro:
― Có-có-ró-cócó!
O ladrão regressou a bom correr. Foi ter com o capitão e explicou-lhe:
― Lá em casa está uma horrível bruxa que me cuspiu para cima e me arranhou a cara com quanta força tinha. Diante da porta há um homem que me deu uma facada na perna. No pátio um monstro encheu-me de pauladas e, lá de cima, do telhado, um juiz gritou: “Tragam-mo cá já!” Consegui fugir por uma unha negra!
Nunca mais os ladrões se atreveram a voltar àquela casa. Pelo contrário, os quatro músicos sentiram-se lá tão bem que nunca mais de lá quiseram sair, vivendo felizes até ao fim das suas vidas."
― Ó cão, por que motivo é que estás assim? — perguntou o burro.
― Ah! ― suspirou o cão ―, é que estou velho e cada dia sinto menos forças. Como já não sirvo para caçar, o meu amo quis matar-me. Por isso fugi, mas agora como é que eu vou ganhar a vida?
― Olha ― disse o burro ―, eu vou para Bremen onde penso entrar na fanfarra local. Vem comigo e tentarei que entres também. Eu tocarei alaúde e tu timbale.
O cão achou boa a ideia e continuaram juntos. Um pouco mais longe encontraram um gato com cara de enterro.
― Ó gato, o que é que te anda a correr mal? ― perguntou o burro.
― E quem é que pode estar contente ― resmungou o gato ― sabendo que tem a vida por um fio? Estou a ficar velho e, como prefiro deitar-me ao pé do lume e ronronar a caçar ratos, a minha dona tentou afogar-me. Escapei a tempo, mas agora, o que vai ser de mim?
― Anda connosco para Bremen. Tu até percebes de serenatas, portanto podes entrar para a banda de música da cidade.
O gato achou boa a ideia e lá foi com eles. Daí a pouco os três fugitivos passaram por uma quinta. Sobre a cancela, o galo cantava a plenos pulmões.
―Ei! Queres dar-nos cabo dos ouvidos? ― perguntou o burro. ― O que há contigo?
― Para hoje, anuncio bom tempo ― respondeu o galo. ― Mas como amanhã é domingo e haverá convidados, a dona da casa, uma mulher sem coração, mandou a cozinheira matar-me. Por isso estou a cantar com quanta força tenho e tenciono continuar enquanto puder.
― Anda daí, Crista Vermelha ― convidou o burro ―, acho melhor que venhas connosco. Nós vamos para Bremen, o que sempre é melhor do que ir parar à panela. Tens uma bela voz e, todos juntos, vamos dedicar-nos à música.
A proposta agradou ao galo e lá foram os quatro. Mas, como a cidade de Bremen ficava longe, à noite entraram numa floresta onde decidiram passar a noite. O burro e o cão deitaram-se debaixo de uma grande árvore. O gato instalou-se nos ramos mais baixos. Mas o galo, por uma questão de segurança, preferiu empoleirar-se o mais alto possível. Antes de adormecer, olhou em todas as direcções e viu uma luz. Chamou os companheiros e disse-lhes que não muito longe dali devia haver uma casa porque se via luz. O burro sugeriu:
― Era melhor levantarmo-nos e continuarmos o nosso caminho, porque aqui não estamos muito bem instalados.
Por seu lado, o cão declarou que um par de ossos com um pedacito de carne agarrada não lhe faria nada mal. Por isso o burro, o cão, o gato e o galo encaminharam-se para a luz que viam aumentar cada vez mais e, por fim, chegaram a um antro de ladrões que estava todo iluminado. O burro, que era o mais alto, aproximou-se da janela e espreitou lá para dentro.
― O que é que estás a ver, ó Cabeça Cinzenta? ― perguntou o cão.
― O que estou a ver? ― respondeu o burro. ― Estou a ver uma mesa coberta de coisas boas e vários ladrões sentados à volta dela, todos satisfeitos.
― Oh! De uma mesa assim é que nós precisávamos! ― exclamou o galo.
― É verdade! Se fôssemos nós à volta da mesa! ― suspirou o burro.
Então os quatro animais puseram-se a pensar na maneira de expulsar os ladrões. Finalmente descobriram-na: o burro poria as patas dianteiras no rebordo da janela, o cão saltava-lhe para as costas, o gato trepava para cima do cão e, por fim, o galo voaria para cima do gato. Feito isto, começaram o concerto. O burro a zurrar, o cão a ladrar, o gato a miar e o galo a cantar. Depois entraram pela janela, num grande estrondo de vidros.
Ao ouvirem esta barulheira tremenda, os ladrões levantaram-se de um salto e, pensando que fosse um fantasma que tinha acabado de entrar, fugiram apavorados. Os quatro amigos sentaram-se à mesa e devoraram tudo, como se já não comessem há semanas.
Quando acabaram, os quatro músicos foram à procura de um bom sítio para dormir, cada qual segundo as suas preferências: o burro deitou-se no pátio em cima da palha, o cão em frente da porta, o gato perto das cinzas ainda quentes da lareira e o galo empoleirou-se numa trave.
Por volta da meia-noite, os ladrões viram que já não havia luzes. Tudo parecia calmo e, por isso, o capitão mandou um deles ir ver o que se passava dentro de casa.
O homem encontrou tudo em silêncio. Foi à cozinha para acender a luz mas, tomando os olhos brilhantes do gato por brasas ainda acesas, aproximou deles um fósforo para avivar o lume. O gato não gostou nada da brincadeira. Saltou-lhe à cara, bufando, e arranhou-o. O ladrão apanhou um valente susto e correu para a porta das traseiras para fugir. O cão, que estava lá deitado, saltou e mordeu-lhe numa perna. Ao passar pelo pátio, o burro deu-lhe um par de coices, e o galo, que tinha acordado com toda esta confusão cantou do alto do seu poleiro:
― Có-có-ró-cócó!
O ladrão regressou a bom correr. Foi ter com o capitão e explicou-lhe:
― Lá em casa está uma horrível bruxa que me cuspiu para cima e me arranhou a cara com quanta força tinha. Diante da porta há um homem que me deu uma facada na perna. No pátio um monstro encheu-me de pauladas e, lá de cima, do telhado, um juiz gritou: “Tragam-mo cá já!” Consegui fugir por uma unha negra!
Nunca mais os ladrões se atreveram a voltar àquela casa. Pelo contrário, os quatro músicos sentiram-se lá tão bem que nunca mais de lá quiseram sair, vivendo felizes até ao fim das suas vidas."
Jakob e Wilhelm Grimm
Era a minha história preferida quando era criança. Adorava, lia e relia todos os dias.
Reencontrei-a há pouco tempo, e recordei esse tempo com uma nostalgia reveladora.
Quando era mais novo não atingia a moral da história - vinte anos mais tarde a mesma inspirou-me. "Se nos sentimos cansados da vida e queremos encontrar o seu sentido, este conto convida-nos a não desesperar. Devemos deixar-nos motivar por uma ideia, uma causa, um projecto que nos pareçam suficientemente dignos de interesse. Não interessa que se trate de uma utopia ou de um sonho irrealizável.
O importante é pormo-nos a caminho e avançar, em vez de nos lamentarmos. Ao percorrer o nosso caminho, encontraremos outras pessoas como nós, que estão também à procura do sentido para as suas vidas. Talvez nos acompanhem na nossa busca absurda e partilhem connosco uma coesão de vida e uma solidariedade que, a dado momento, possa transformar-se numa “fanfarra” viva e alegre – mesmo que esta fanfarra esteja muito longe da ideia que dela tínhamos."
Vou fazer o mesmo! Vou até Bremen! Quando lá chegar vou procurar a estátua dos músicos, onde todas as semanas fazem a representação da história, e vou tocar na pata do burro - dizem que dá sorte!
Reencontrei-a há pouco tempo, e recordei esse tempo com uma nostalgia reveladora.
Quando era mais novo não atingia a moral da história - vinte anos mais tarde a mesma inspirou-me. "Se nos sentimos cansados da vida e queremos encontrar o seu sentido, este conto convida-nos a não desesperar. Devemos deixar-nos motivar por uma ideia, uma causa, um projecto que nos pareçam suficientemente dignos de interesse. Não interessa que se trate de uma utopia ou de um sonho irrealizável.
O importante é pormo-nos a caminho e avançar, em vez de nos lamentarmos. Ao percorrer o nosso caminho, encontraremos outras pessoas como nós, que estão também à procura do sentido para as suas vidas. Talvez nos acompanhem na nossa busca absurda e partilhem connosco uma coesão de vida e uma solidariedade que, a dado momento, possa transformar-se numa “fanfarra” viva e alegre – mesmo que esta fanfarra esteja muito longe da ideia que dela tínhamos."
Vou fazer o mesmo! Vou até Bremen! Quando lá chegar vou procurar a estátua dos músicos, onde todas as semanas fazem a representação da história, e vou tocar na pata do burro - dizem que dá sorte!
Monday, 25 August 2008
Notícias Refrescantes
À espera...
Tenho esta maneira de ser, de me acomodar e esperar. De ter paciência. De me conformar. Talvez seja fé que algo se irá passar, algo de bom irá acontecer. Piorar também é difícil e coisas boas acontecem a quem sabe esperar.
Será que faço bem em pensar assim?! Não sei! De qualquer maneira, não faço nada, não depende de mim.
Só, posso continuar à espera.
À espera de algo que não vai acontecer. À espera da Vida. À espera que se ofereça como que por qualquer conspiração universal para bem das partes.
Mas Ela demora…estas coisas demoram e eu, não sei nada.
Só, sei, que continuarei à espera.
Só, espero, que não se demore muito.
Não há certezas! Afinal quanto tempo é que devo ficar à espera?
Espero… Vazo o coração à noite e, vejo-o no dia seguinte cheio outra vez.
Há que pensar de outra maneira. Criar oportunidades. Parar com os queixumes e deixar este voo agitado em volta do casulo. Olhar o horizonte que me pertence e deixar de esperar pelo que me é eternamente alheio.
Chega de silencioso desespero, chega de aguentar. Vou sair daqui. Vou zarpar! Duvido que volte! Se voltar…prometo que trago muitas histórias para contar.
Não tenho aqui nada. Não vale a pena, não é para mim. Vou procurar onde faça falta, onde demorar, onde precisem de mim. Preciso disso. Preciso dela.
Só há uma pessoa capaz de me salvar a vida e eu, nem sequer a conheço.
Será que faço bem em pensar assim?! Não sei! De qualquer maneira, não faço nada, não depende de mim.
Só, posso continuar à espera.
À espera de algo que não vai acontecer. À espera da Vida. À espera que se ofereça como que por qualquer conspiração universal para bem das partes.
Mas Ela demora…estas coisas demoram e eu, não sei nada.
Só, sei, que continuarei à espera.
Só, espero, que não se demore muito.
Não há certezas! Afinal quanto tempo é que devo ficar à espera?
Espero… Vazo o coração à noite e, vejo-o no dia seguinte cheio outra vez.
Há que pensar de outra maneira. Criar oportunidades. Parar com os queixumes e deixar este voo agitado em volta do casulo. Olhar o horizonte que me pertence e deixar de esperar pelo que me é eternamente alheio.
Chega de silencioso desespero, chega de aguentar. Vou sair daqui. Vou zarpar! Duvido que volte! Se voltar…prometo que trago muitas histórias para contar.
Não tenho aqui nada. Não vale a pena, não é para mim. Vou procurar onde faça falta, onde demorar, onde precisem de mim. Preciso disso. Preciso dela.
Só há uma pessoa capaz de me salvar a vida e eu, nem sequer a conheço.
Wednesday, 20 August 2008
Algures Fora do Mundo
Esta vida é um hospital onde cada doente está possuído do desejo de mudar de cama. Este queria sofrer diante do fogão, e aquele crê que se curava ao lado da janela. A mim parece-me que estaria bem no lugar onde não estou. O problema de partir é a discussão permanente com a minha alma.
"Alma friorenta que pensarias tu de viver em Lisboa? Deve lá fazer calor e podias apanhar sol como um lagarto. A cidade situa-se à beira da água; dizem que é construída de mármore e que o povo tem tanto ódio ao vegetal que arranca todas as árvores. No fundo um lugar ao teu gosto; uma paisagem feita de luz e de mineral, com líquido para nos reflectir"!
A minha alma não responde.
"Visto que tanto gostas de repouso e do espectáculo de gente, queres ir viver para a Holanda, essa terra beata? Talvez te divirtas nesse País cujas imagens tantas vezes admiraste nos museus. Que pensarias tu de Roterdão, tu que amas as florestas de mastros e os navios atracados junto das casas?"
A minha alma fica muda.
"Batávia agradar-te-ia talvez mais? Encontraríamos lá o espírito da Europa casado com a beleza tropical"
Nem uma palavra. Estará morta a minha alma?
"Terás chegado a tal grau de desespero que não deleitas senão com o teu mal? Se é assim fujamos para países de morte. Já sei o que nos convém, pobre alma! Fazemos as malas para Tornéo. Vamos para mais longe ainda, se é possível. Vamos para o Pólo Norte. Lá o Sol mal roça obliquamente pela Terra, e as lentas alternativas da luz e da noite suprimem a variedade e aumentam a monotonia, essa metade do nada. Lá poderemos tomar longos banhos de trevas enquanto as auroras boreais nos levarão de tempos a tempos as suas girândolas cor-de-rosa, lembrando reflexos de um fogo-de-artifício do Inferno!"
Por fim a minha alma explode e grita: "Seja para onde for! Seja para onde for! Desde que seja para fora deste mundo!"
"Alma friorenta que pensarias tu de viver em Lisboa? Deve lá fazer calor e podias apanhar sol como um lagarto. A cidade situa-se à beira da água; dizem que é construída de mármore e que o povo tem tanto ódio ao vegetal que arranca todas as árvores. No fundo um lugar ao teu gosto; uma paisagem feita de luz e de mineral, com líquido para nos reflectir"!
A minha alma não responde.
"Visto que tanto gostas de repouso e do espectáculo de gente, queres ir viver para a Holanda, essa terra beata? Talvez te divirtas nesse País cujas imagens tantas vezes admiraste nos museus. Que pensarias tu de Roterdão, tu que amas as florestas de mastros e os navios atracados junto das casas?"
A minha alma fica muda.
"Batávia agradar-te-ia talvez mais? Encontraríamos lá o espírito da Europa casado com a beleza tropical"
Nem uma palavra. Estará morta a minha alma?
"Terás chegado a tal grau de desespero que não deleitas senão com o teu mal? Se é assim fujamos para países de morte. Já sei o que nos convém, pobre alma! Fazemos as malas para Tornéo. Vamos para mais longe ainda, se é possível. Vamos para o Pólo Norte. Lá o Sol mal roça obliquamente pela Terra, e as lentas alternativas da luz e da noite suprimem a variedade e aumentam a monotonia, essa metade do nada. Lá poderemos tomar longos banhos de trevas enquanto as auroras boreais nos levarão de tempos a tempos as suas girândolas cor-de-rosa, lembrando reflexos de um fogo-de-artifício do Inferno!"
Por fim a minha alma explode e grita: "Seja para onde for! Seja para onde for! Desde que seja para fora deste mundo!"
Charles Baudelaire
Tuesday, 19 August 2008
Uma coisa simples
Às vezes, a coisa mais simples esgota-nos a paciência num micro segundo.
Não quer dizer que tenhamos mau temperamento! Talvez seja o corpo a pedir emoção.
P.S. - Adoro a Margarida!
Thursday, 14 August 2008
Coming Back To Life
"This one is dedicated to my lovely wife Polly" - David Gilmour
"Where were you when I was burned and broken
While the days slipped by from my window watching
And where were you when I was hurt and I was helpless
Because the things you say and the things you do surround me
While you were hanging yourself on someone else's words
Dying to believe in what you heard
I was staring straight into the shining sun
Lost in thought and lost in time
While the seeds of life and the seeds of change were planted
Outside the rain fell dark and slow
While I pondered on this dangerous but irresistible pastime
I took a heavenly ride through our silence
I knew the moment had arrived
For killing the past and coming back to life
I took a heavenly ride through our silence
I knew the waiting had begun
And I headed straight...into the shining sun"
Pink Floyd - 'Coming Back To Life'
Music and Lyrics - David Gilmour
Wednesday, 13 August 2008
Red Sky At Night
David Gilmour - 'Red Sky At Night'
David Gilmour aprendeu a ler música quando a sua mulher - Polly Samson, jornalista e escritora - lhe ofereceu um saxofone pelo seu aniversário. Um dos melhores guitarristas do mundo, nunca soube ler música até esse momento. E fez uma carreira brilhante! Espero que continue e viva para sempre. E ela também, claro, porque sem ela...
Tuesday, 12 August 2008
Perguntas difíceis
Hoje fizeram-me esta pergunta: "O que preferes? Um mulher na cama contigo a pensar noutro homem, ou na cama com outro homem a pensar em ti?"
Sinceramente! Sou só eu que penso, que a resposta a esta pergunta é óbvia?!
Fazem-me cada pergunta! Primeiro dizem que gostam das minhas respostas, e depois acham que estão a fazer um pergunta difícil. Daquelas do tipo "O que apareceu primeiro, o ovo ou a galinha?" Esta sim, é uma pergunta difícil!
No entanto, adoro os que respondem: "Depende do contexto." Dá-me logo uma vontade de rir!
Só dependia do contexto e só seria uma pergunta difícil se a mulher fosse minha.
Sinceramente! Sou só eu que penso, que a resposta a esta pergunta é óbvia?!
Fazem-me cada pergunta! Primeiro dizem que gostam das minhas respostas, e depois acham que estão a fazer um pergunta difícil. Daquelas do tipo "O que apareceu primeiro, o ovo ou a galinha?" Esta sim, é uma pergunta difícil!
No entanto, adoro os que respondem: "Depende do contexto." Dá-me logo uma vontade de rir!
Só dependia do contexto e só seria uma pergunta difícil se a mulher fosse minha.
Monday, 11 August 2008
Filosofia "Calviniana"
Thursday, 7 August 2008
Das Profundezas Clamo
Que destino aos milhões de anátemas. Não está o céu farto deste acervo? Tirano. Onde está meu ensejo?
Vivo num mundo obscuro, sem horizonte nem momento azado que investe no meu espírito humilhado.
Nas noites sós proliferam horrores carregados de ironias infames que causam meus sezões.
Diferenças entre pescadores de palavras cobradoras de alento e poetas viciados em dor.
Não há bichos nem rios. Não há prados nem bosques. Não há mar nem sal. Há sons e livros!
Não há uma única árvore à minha espera.
Do fundo da ravina escura onde caí estatelado no duro. Ouve meu lamento – aliviante de agravo.
Arrastando-se para morrer, trás o escuro, um sol sem afago que tenta apagar meu cenho pesado
Não há neste universo nem no outro, horror que ultrapasse a violência gratuita deste sol gelado.
Nem o Caos é mais desarrumado do que estas noites iníquas onde te falo baixinho quase mudo.
Invejo o quinhão que coube ao mais feliz dos animais que se pode esquecer num sonho pasmado.
Exclusão. Peço-te:
Separa o tempo que me pesa e dói em fios tão finos quanto puderes. E fá-lo devagarinho.
§
Vivo num mundo obscuro, sem horizonte nem momento azado que investe no meu espírito humilhado.
Nas noites sós proliferam horrores carregados de ironias infames que causam meus sezões.
Diferenças entre pescadores de palavras cobradoras de alento e poetas viciados em dor.
Não há bichos nem rios. Não há prados nem bosques. Não há mar nem sal. Há sons e livros!
Não há uma única árvore à minha espera.
Do fundo da ravina escura onde caí estatelado no duro. Ouve meu lamento – aliviante de agravo.
Arrastando-se para morrer, trás o escuro, um sol sem afago que tenta apagar meu cenho pesado
Não há neste universo nem no outro, horror que ultrapasse a violência gratuita deste sol gelado.
Nem o Caos é mais desarrumado do que estas noites iníquas onde te falo baixinho quase mudo.
Invejo o quinhão que coube ao mais feliz dos animais que se pode esquecer num sonho pasmado.
Exclusão. Peço-te:
Separa o tempo que me pesa e dói em fios tão finos quanto puderes. E fá-lo devagarinho.
§
Unknown Angel
Vou tocar-lhe esta. Quando a conhecer... e for minha!
I've got an angel
She doesn't wear any wings
She wears a heart that could melt my own
She wears a smile that could make me want to sing
She gives me presents
With her presence alone
She gives me everything I could wish for
She gives me kisses on the lips just for coming home
She can make angels
I've seen it with my own eyes
You got to be careful when you've got good love
Cause them angels will just keep on multiplying
You're so busy changing the world
Just one smile can change all of mine
We share the same soul
Oh oh oh oh oh ohhh
We Share the same soul
Oh oh oh oh oh ohhh
We Share the same soul
Oh oh oh oh oh ohhh
Oh oh oh oh oh ohhh
Umm umm umm uhhhhhhmm
Jack Johnson - 'Angel'