A angústia torna-nos seres dormentes, apáticos, habituados ao desfastio ermitante. A dor deixa de ser inimiga e passa a ser parceira. Viramos bichos como o insecto de Kafka. Não nos reconhecemos sem ela e, até algo de extraordinário acontecer, queremo-la sempre connosco. É a nossa mais fiel companheira, podemos sempre contar com a sua ajuda. Arrasta-nos para o exílio em terras no meio de tristes, onde pairamos sobre o bravio e nos rimos não sendo alvos. Oferece-nos asas gigantes mas sentimo-nos sempre pobres. Atraímos pensamentos negativos e ferimos a esperança. Tornamo-nos assassinos do sol e do azul claro. Queremos o escuro e a lâmpada fraca. Queremos a sombra aqui e além. Queremos estar sós na folha branca. Fechamos os olhos e não vemos ninguém. Feliz aquele que com um golpe de asas vigoroso consegue alçar-se para campos luminosos e serenos, longe da solidão, da tristeza e das vastas mágoas que pesam tão pesadas sobre a infame reminiscência.
“Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.”
Alberto Caeiro, 'O Guardador de Rebanhos'.
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