Friday 18 April 2008

Num banco do jardim


Passava no jardim, era tipo cinco e meia. As árvores estavam ofegantes, cansadas da noite agitada, repousavam projectando a sombra fresca na relva. Sentada na ponta de um banco de madeira, uma mulher que a princípio prestei tanta atenção como a tudo o resto – nenhuma. Mas nessa mulher escondia-se alguma coisa de estranho que me saltava naturalmente à vista, primeiro com algum aborrecimento, depois com cada vez mais força. Era nova, vinte e muitos, talvez trinta, de perna cruzada brincava com a sandália a dançar no pé suspenso. Com uma serenidade doce no rosto, lia absorvida um livro maciço, provavelmente um qualquer romance, afinal ninguém lê livros de estudo enquanto brinca com uma sandália. Despertou-me toda a atenção. Quando o vento queria soprava uma brisa que lhe apertava o vestido preto de seda fina, realçava-lhe a silhueta feminina e levantava-lhe o cabelo escuro e comprido (esta minha mania das morenas). Usava óculos escuros e tinha no pescoço um lenço pequeno, castanho, todo torto e desalinhado. Por vezes atirava a cabeça para trás, alongando o pescoço cansado da posição, um espectáculo desarmante. Foi num desses gestos, enquanto fazia a rotação, que cruzou os olhos com os meus e descobriu o meu olhar furtivo. Instintivamente tímido, desviei lentamente o olhar. Ela tinha acabado de despejar a coragem que enchia no ânimo para me dirigir até ao banco e dizer: Olá!
Se ao menos ela tivesse sorrido! O que fazias? Cala-te Palerma.

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